ouvi nessas esquinas...

ouvi nessas esquinas...

Dita

Entra.
Senta-te.
Quieto.


Falas quando eu disser. Se eu quiser.
Vais ouvir tudo calado. Obediente. Quieto. Atento.
Mesmo que saia deste quarto, tu ficas no teu lugar.

Esperas.

Como um cão de guarda. Ou de colo.


Se voltar a entrar aqui, não sais do teu lugar. Não olhas para ver se sou eu.
Ficas imóvel.
Quieto.

Se me apetecer dou-te festas.
Se me apetecer dou-te pontapés.


Não te mexes. Nem um esgar de olhos.
Nada.

Dou-te de beber se achar que mereces.
Dou-te de comer se achar que precisas.

Limitas-te a estar, já que não és.
Não és para além da minha vontade.
O meu desejo é o único veículo da tua existência.
Vives porque eu digo.
Morres se eu disser.
Desapareces.
Dissolves-te.

Não pensas.
Não falas.
Não vês.

Aqui dentro de nada te vale que guinches os teus escárnios e vociferes a tua estupidez, de nada valem as tuas ofegantes tentativas para não te engasgares no teu próprio vómito.
Patética e miserável, qualquer tentativa de escape ou revolta.
Fica mal teimar em vontades próprias quando se é desprovido de espinha dorsal e de pensamento inteligente.
Não tens identidade, és menos que sombra.
Não olhas como igual, baixas os olhos na minha presença, reduzes-te a um canto frio e húmido de uma parede esburacada pelo tempo corrosivo.
Aqui és anónimo.
Mas não porque o quiseste, não porque te preferes esconder para que te não descubram.
És anónimo porque assim te baptizo.
Porque não és ninguém.
Nada. Nem nada és.

Nada.


De nada.

7 comentários:

polegar disse...

fabuloso.

Anónimo disse...

marquesa permita que toda a gente comente.
seu Visconde

M. disse...

assim faço depois de ter revisto a minha posição e inspirada por meus colegas.
é bom encontrar "anónimos" que pensam que nos insultam mas na verdade nos inspiram e nos relembram do que um dia nos guiou para o que fazemos hoje. em alturas de desalento é bom saber que, algures, andam à espreita oportunidades para nos reencontrarmos com as nossas mais profundas convicções.
viva nós!
M.

Unknown disse...

E agora que posso comentar, deixe-me que lhe dê os parabéns por tal "belogue" (como diz o outro) e que a felicite por ser uma "pseudo-actriz e pedante" que eu que não tenho "belogue" também gostaria muito de ser!

Beijos Gaija, B.

M. disse...

barbara me deixe ensentivala a queriar um belogue que isto é du milhor qui á!
beijos
M

Unknown disse...

fantástico.

Anónimo disse...

quero apanhar na cona