Helena
Já vai para 35 anos a levar com ele.
Devo avisar, desde já, que gosto. Não poderia fazer mais nada na vida que não fosse levar com ele.
Desde os meus 13 anos que assim é, e mesmo em criança refugiava-me no palheiro com as minhas primas e os meninos que viviam nas barracas ao lado da minha casa. Passavamos horas a imitar os beijos que viamos nos filmes, e o prazer que eu sentia na altura, nunca mais voltei a ter. Nunca fui tão sexual como quando era apenas uma menina.
Ainda carrego com emoção esses meus despertares, e se fechar os olhos, ainda consigo sentir as línguas pequenas e atrapalhadas percorrerem o meu corpo.
Já adolescente, descobri que, afinal, o coração não mora no peito, como ensinam na escola, mas escondido entre as minhas pernas. Era uma sensação única, essa de carregar os batimentos descontrolados do coração dentro da vagina. Comprimia-me, como se tivesse medo que o coração caísse, e depressa descobri que essas contrações me levariam a outras muito maiores e incontroláveis.
Foi no meio de uma aula que tive o meu primeiro orgasmo.
Ninguém percebeu, nem a menina com quem partilhava a escrivaninha.
Rocei-me em mim própria, apertando-me por baixo, espaçadamente e sem demoras.
No momento em que me vim, senti-me desfalecer por uns segundos, o ar faltou-me e senti as minhas bochechas a explodir. Ainda não sei como consegui impedir-me de gritar, mas a verdade é que não emiti qualquer som, nem deixei que percebessem o que quer seja.
Mas as lágrimas, não as impedi. Simplesmente saltaram-me das órbitas, até pareciam que levavam os olhos com elas. Nesse preciso momento percebi que o meu lugar não era ali e para espanto de todas, saí a correr da sala.
Falei com os meus pais e ofereci-me para ir para a Capital, onde poderia facilmente arranjar trabalho a servir numa casa. O dinheiro era pouco, e aceitaram sem discussão.
Parti para cá com onze anos.
Saltei de casa em casa, não conseguia manter-me em lugar nenhum, em parte devido à minha rebeldia. Mas não aceitava o facto de ser tratada abaixo de cão, passar horas e horas sem comer, alimentar-me apenas se sobrassem restos das refeições dos patrões e limpar a merda dos outros, esfregar cueiros cagados, tapetes, alcatifas. Não era assim que queria ser lembrada. Se tivesse que ganhar a vida curvada, nunca seria a servir os ricos.
Na última casa onde servi, vivia uma família burguesa. Havia espelhos e cabeças de animais mortos espalhados pelas paredes. O senhor gostava de caçar e até já tinha ido a África caçar antílopes e rinocerontes. A biblioteca era a sua caixa de tesouros, onde guardava todas as relíquias das suas viagens e os louros dos safaris. As velhas glórias sem vida pintavam a sala de cores exóticas e partilhavam o espaço com os retratos dos antepassados e da senhora que, para grande infelicidade do senhor, morrera ao dar à luz o quinto filho do casal.
O senhor era agora uma sombra sem vida, um fantasma velho e gasto pela dor.
Deve ter sido isso que me atraiu nele, esse abandono inconsolado.
Não falava, não sorria, comia pouco, bebia muito. Nunca provocou escândalos nem confusões, nunca saía de casa.
Refugiava-se na biblioteca e bebia, contemplando a nostalgia do passado que ali habitava.
Foi assim que o fui encontrar. Sozinho, sentado na grande poltrona. A cabeça tombava, e o copo caído espalhava o licor pelo chão. Dormia como uma criança pequena. O último filho tinha casado e encontrava-se agora completamente só. No espaço de dois anos, todos tinham abandonado o velho casarão.
O senhor sucumbiu à bebida e à celebração dos outros. Sucumbiu à tristeza.
Durante dois anos permaneci naquela casa, onde me sentia deslocada mas com alguma liberdade para me dar a alguns luxos. De noite, escapulia-me para o sotão onde o senhor guardava os vestidos da mulher, e passava horas em frente ao espelho, vestida de senhora, mascarada de dama rica. Imaginava-me em grandes festas, perfumada e de lábios vermelhos, bebendo champanhe e comendo aquelas aves de caça.
E depois imaginava-me a chegar ao casarão com o senhor, e subir a escadaria a rir-me escandalosamente, enquanto o senhor me agarrava as mamas e me puxava pela cintura para junto de si e me fazia sentir o sexo entesado através do meu vestido de seda.
Masturbava-me enrolada nas roupas e nas jóias da senhora, escondida no sotão, no segredo da noite. E foi numa dessas madrugadas, que desci à cozinha e o encontrei na biblioteca.
Vi a luz que vinha de lá e caminhei descalça pela mármore fria. A imagem que vi encheu-me de pena e ternura. O senhor completamente frágil e abandonado na poltrona.
A minha pele ainda estava quente das minhas fantasias. Aproximei-me devagar, silenciosamente.
Toquei-lhe no ombro. Não sentiu. Um arrepio de excitação percorreu a minha espinha e alojou-se no meu estômago. O meu peito explodia de antecipação e a minha barriga ainda doía de prazer.
Não sei como nem porquê, mas intuitivamente as minhas mãos ganharam vida própria e, cega, nada mais havia à minha frente. Só o sexo do senhor. Escondido, depressa passou para a minha mão. Maravilhada, com a sua cor, as veias, toda eu tremia de espanto.
O senhor dormia, completamente apagado. Na minha delicadeza, nada fiz para o despertar, e com cuidado e sede tomei-lhe o sexo ainda mole na minha boca.
À medida que enrijecia, o senhor despertava do sono pesado, e ainda confuso e enebriado, tentava decifrar a imagem com que se deparava. Ajoelhada, olhava fixamente nos seus olhos, mas não parei. Estava extasiada, presa num transe sem pudores nem limites. Engolia-lhe o sexo na minha boca ainda pequena.
Ele ficou estarrecido, quieto. Consegui perceber a perplexidade com que me olhava, a mim, a criada da província ainda menina, ainda virgem, naquela posição, prostrada a seus pés. Há muito que não conhecia uma mulher, fechado que estava para o mundo após a morte da senhora. Mas ali ainda havia vida.
Enquanto agitava firmente o seu caralho com uma das mãos, tocava-me com a outra. Talvez tenha sido surpreendente para ele esta visão, mas homem que era, não resistiu e levado pela carga do momento afastou a minha boca e levantou-se. Assustada, tremia de medo do que me esperava, mas não conseguia parar de me masturbar. Ficou assim, de pé, a contemplar-me.
Depois, deitou-se sobre mim, abriu-me as pernas e sem qualquer cuidado especial entrou em mim.
Os olhos tristes duma gazela espelhavam o nosso reflexo, e é essa a imagem que guardo desse momento.
Não me doeu. Não sangrei. Não me vim.
Mas nesse preciso momento decidi que isto que acontecera marcaria o resto da minha vida.
Tinha 13 anos.
2 comentários:
Sua pessoa se queixa de não lhe comentarem textos... pois lhe digo que é díficil. Mete medo não estar à sua altura. Você sempre me surpreendendo...
lhe venero
Seu visconde
nada mais faço que prestar vassalagem a meu senhor e honrar seus ensinamentos
sempre sua (até no escuro)
M.
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